quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Crianças adoram fantasmas

O Jornal União, que publica o Frio na Espinha, minha série quinzenal de histórias, recebe várias contribuições de gente inspirada pelos contos sobre o sobrenatural. As mais legais são de crianças. O atual ilustrador da coluna é um adolescente, o Caique, que foi levado pelo pai à redação depois que revelou seus desenhos macabros em casa. Mas o desenho a seguir é de uma criança de 10 anos.


Na última semana, o União recebeu uma carta da professora Ivone Simioni Polli, que é responsável por turmas de quarta série no colégio municipal Nilce Terezinha Zanetti, no localidade rural de Terra Boa, Campina Grande do Sul. Atividade que ela desenvolveu resultou em vários desenhos, dois deles aqui na página. Endosso completamente a ideia de recuperar a tradição de contar histórias de fantasmas. Há anos, não sentia esse tipo de orgulho por causa do meu trabalho.

Leia um trecho da carta:

Não há dúvidas que na sociedade atual, os meios de comunicação são muito mais que recursos de ensino, são agentes sociais que abrem espaços para discussões de tudo o que acontece na sociedade na qual estamos inseridos. Dessa forma não é mais possível que a escola fique alienada aos fatos que se passam a sua volta, ou seja, transmitir conhecimentos que muitas vezes estão ultrapassados ou não fazem nenhum sentido para os alunos pois não fazem parte do seu cotidiano. Utilizando o jornal em sala de aula, pude perceber um grande interesse dos alunos, pois as reportagens ali descritas são fatos reais, que nos afetam direta ou indiretamente e por isso  despertam interesse e curiosidade.

(...)
Em agosto, por ser o mês do Folclore, aproveitei a coluna “Frio na Espinha” do Jornal União”, para trabalhar com as histórias de assombração, pois essas histórias também fazem parte do nosso folclore,  povoando a imaginação de muitas crianças e adultos. No início desse trabalho, propus  o assunto para os alunos  para ver como seria a reação deles,  pois não é comum as crianças de hoje ouvirem esses “causos” como eram conhecidos antigamente e que fizeram parte da minha infância e da infância de tantas crianças. Comecei a trabalhar com esses textos  e me surpreendi com o interesse dos alunos que começaram também a envolver os pais e os avós para saberem mais sobre essas histórias. Os relatos que eles mais gostaram foram “ Fantasmas de bebês não- batizados na Jaguatirica” e “Ela queria voltar para casa”. 

O assunto foi contagiando a turma toda e cada dia alguém chegava com uma história diferente sobre assombrações, para contar aos colegas. Acho que o mais interessante foi esse resgate de um costume tão antigo, onde toda a família  sentava-se após o jantar e passavam horas contando esses causos que ficaram para sempre na memória das crianças daquela época.

Precisamos fazer com que nossas crianças conheçam e valorizem o nosso folclore, os costumes da nossa gente, pois quando lhes damos espaço para falar, percebemos o quanto esse povo tem a nos ensinar. 
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Fui até a escola, ontem, e descobri que os alunos encenam as histórias, visitam as outras turmas para contar aos colegas e ficam ansiosos pelo dia que o jornal chega. Estimularam os pais a relembrar as lendas da infância e inventam as próprias narrativas. Ou seja, é um caso em que o jornal efetivamente contribui com o processo educacional - num ramo, a literatura, cada vez mais tortuoso de ser trabalhado em sala de aula. Firmei compromisso, com a diretora Valquíria (meio), a supervisora Edicléia (esquerda), a professora Ivone (direita) e a falecida professora Zavatski (ao fundo, em névoa), de voltar lá e contar outras histórias de assombração para a criançada.

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