domingo, 18 de setembro de 2011

Sobre Rottentomatoes e Metacritic - artigo para o Comunicon


Como hoje é dia de "Emmy", recorto aqui o início de um artigo aprovado para o Congresso Internacional em Comunicação e Consumo, que será realizado em outubro na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo. Tento refletir sobre estratégias da crítica (de tv e cinema) nessa época em que a internet baliza o consumo desse tipo de texto.
Tentativas de hegemonia da crítica sob a influência da estética midiatizada[1]

Victor Folquening[2]
Unisinos

Resumo
A circulação das mensagens no mundo contemporâneo, por seu caráter dispersivo e novos níveis de escalonamento, gera ambiguidades quanto ao reconhecimento público das obras referenciais da cultura. Nesta nova natureza sócio- tecno-organizacional, “passamos de estágios de linearidades para aqueles de descontinuidades, de fragmentos e de heterogeneidades” como nos diz Fausto Neto. Instituições ainda baseadas na cultura em que a escrita ocupa papel central, como a crítica profissional, naturalmente desenvolvem estratégias de assegurar a própria relevância como norteadoras do consumo da arte e entretenimento. Os objetos para essa análise são os sites Rotten Tomatoes (RT) e Metacritic (MC), dedicados a publicar rankings de produtos culturais lançados, sobretudo, no mercado cultural norte-americano. A peculiaridade desses projetos é a adoção de um método estatístico de valoração dos produtos, amparado em publicações variadas de críticas de cinema, televisão, música e jogos eletrônicos.

Palavras-chave: Crítica cultural – midiatização – circulação – Rottentomatoes – Metacritic

A ambição do artigo seguinte é refletir sobre uma estratégia específica de hegemonização de padrões de qualidade estética, dentro de uma categoria reconhecida como “crítica de produtos culturais”, em face ao crescente processo de midiatização da sociedade. A hipótese de partida acompanha o raciocínio, desenvolvido entre outros por Verón (2005) e Fausto Neto (2005, 2006), de que a característica mais marcante dessa nova “ambiência” é a lógica de circulação das mensagens, superando modelos comunicacionais que privilegiam, como fator analítico, a emissão e a recepção.
A circulação no mundo contemporâneo, por seu caráter dispersivo e novos níveis de escalonamento, gera ambiguidades quanto ao reconhecimento público das obras referenciais da cultura. Nesta nova natureza sócio-tecno-organizacional, “passamos de estágios de linearidades para aqueles de descontinuidades, onde noções de comunicação, associadas às totalidades homogêneas, dão lugar àquelas de fragmentos e de heterogeneidades” (Fausto Neto, 2006, p.3). É possível que instituições marcadas por parâmetros ainda calcados na cultura em que a escrita ocupa papel central, como a crítica profissional, procurem desenvolver estratégias de assegurar a própria relevância como norteadoras do consumo da arte e entretenimento. Trata-se de um esforço “reacionário”, no sentido literal da palavra, pois promete o re-estabelecimento de uma cultura de hegemonia de critérios estéticos, eleitos por peritos outrora discutidos apenas entre os pares, nessa época de maior complexidade da circulação e, por conseqüência, da fruição dos produtos engendrados nela. Como também observa Verón, os efeitos das operações midiáticas, “lejos de producir homogeneización (es decir, cristalización de las estructuras organizacionales de la sociedad), son generadores de complejidad, y, por lo tanto, de cambio” (Verón, 2005, p. 134).
Em “A Sociedade Enfrenta sua Mídia” (2006), pesquisa em que investiga o “sistema de resposta social”, José Luís Braga não se preocupa em definir claramente um conceito para “crítica”, confiando pragmaticamente na expressão como ela soa de forma mais ou menos consensual. Não nos afastamos desse modelo no artigo presente, mas, por questões práticas, reconhecemos aquela crítica que se autodefine como especialista – por isso tem reconhecimento público, e, pelo uso cotidiano, se apresenta como foco privilegiado de qualificação, separação e hierarquização dos objetos da cultura. Desse modo, e apenas para a tarefa momentânea, não consideramos aqui a “resposta social” não-profissional (comentários em blogs, cartas à redação, etc.) como “crítica”.
Os objetos dessa análise são os sites Rotten Tomatoes[3] (RT) e Metacritic[4] (MC), dedicados a publicar rankings de produtos culturais lançados, sobretudo, no mercado cultural norte-americano. A peculiaridade desses projetos é a adoção de um método estatístico de valoração dos produtos, amparado em publicações variadas, na web e fora dela, das críticas de cinema, televisão, música e jogos eletrônicos circulantes. Parece que RT e MC procuram responder a pelo menos dois fenômenos possíveis da midiatização da sociedade (especialmente no papel que a web desempenha nesse processo): a) a valorização da opinião não especializada, em virtude dos inúmeros mecanismos de expressão (p. ex., as redes sociais), como substituição ao crivo crítico perito; b) o crescimento geométrico das possibilidades de expressão e opinião, sendo disponibilizadas sem ordem específica ou, pelo menos, em sistemas que não obedecem, necessariamente, à construção do cânone, artístico ou intelectual.


[1] Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho GT 2: Comunicação, Consumo e Estética, do 1º Encontro de GTs  - Comunicon, realizado nos dias 10 e 11 de outubro de 2011.
[2] Professor-pesquisador das Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil), jornalista, mestre em Ciências Sociais Aplicadas, doutorando em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos): vicfolken@yahoo.com.br.

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