sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Trecho de artigo sobre o panorama das pesquisas que relacionam mídia e religião no Brasil

Essa é a introdução do artigo também aprovado para o 5o Congresso Internacional de Ciências da Religião. Trata-se da primeira participação das minhas orientandas em um evento acadêmico.

Panorama das pesquisas sobre a relação Mídia e Religião realizadas nos cursos de mestrado e doutorado em Comunicação entre 2005 e 2011

Victor Folquening, com a colaboração das bolsistas de iniciação científica Evelyn Dias Arendt, Anne Louyse Araújo e Larissa Ilaídes (da esquerda para a direita, nessa foto de Emily Kravetz).



RESUMO: A partir de todos os cursos de pós-graduação strictu sensu em Comunicação no Brasil, identificamos teses e dissertações, produzidas desde 2005, que investigam as relações entre mídia e religião. Incluindo casos de trabalhos realizados em outras áreas (como Sociologia e Antropologia),  mas amplamente focados na Comunicação, chegamos a 87 publicações acadêmicas, 36 em PPGs de Comunicação e 51 resultantes de pesquisas de outros campos. Análise inicial dos textos – sobretudo resumos – mostra regularidades instigantes. Entre elas: a) evidente postura crítica a priori nos trabalhos em que igrejas neopentecostais, sobretudo IURD, são objeto; b) comprometimento institucional de pesquisadores das religiões cristãs tradicionais, especialmente ICAR e luteranas, com seu objeto de estudo; c) pouco interesse por religiões não-cristãs; d) predileções regionais: no nordeste, frequência da abordagem antropossociológica; no sul, o foco na linguagem.

Introdução

A pretensão da presente pesquisa é extrair abduções sobre o estado da arte das dissertações e teses que relacionam religião e mídia no país. Trata-se de um recorte que não pretende garantir uma “varredura” absoluta da produção na área, mas ainda assim abrange todos os 38 cursos de pós-graduação em Comunicação strictu sensu no Brasil.  Espera-se com o escrutínio a representatividade necessária para a reflexão sobre os caminhos temáticos e metodológicos que envolvem a midiatização da religião.

Os trabalhos visitados foram defendidos entre 2005 e primeiro semestre de 2011 e totalizam 25 dissertações de mestrado e 12 teses de doutorado verificadas entre os programas associados à Comunicação[1].

As instituições em que se registram pesquisas específicas na área são Unisinos (12), PUC-SP (5), USP (4), Fundação Cásper Líbero (3), UFSM e Unesp (2), PUC-MG, UFC, UFG, UFJF, UFRJ, Unicamp e Unimar (1 cada).  Apenas Unisinos (5), PUC-SP (4), USP (2) e UFRJ (1) possuem trabalhos próprios de doutorado relacionando mídia e religião em seus acervos de Comunicação.

A razão para o recorte temporal – últimos seis anos – é a suposição, assumidamente frágil, de que as pesquisas mais recentes acabam absorvendo o trabalho das anteriores – é uma hipótese que sequer pode ser comprovada (e até mesmo refutada, uma vez que a coleção analisada mostra uma regular negligência com o trabalho alheio entre os pesquisadores), mas que serve como simples corte de observáveis.

        Ainda assim, foram consideradas 51 pesquisas realizadas em outras disciplinas e que sugerem preocupação, mesmo que tangencial, com a influência da mídia nas religiões. Estas foram percebidas a partir das instituições que também oferecem cursos de Comunicação. Dessa forma, consideramos eventualmente trabalhos defendidos em mestrados e doutorados em Educação (Unisinos), Letras, Engenharia Civil, História e Ciências Sociais (UFSM), Ciência Política, Educação, Sociologia e Musicologia (USP), Antropologia Social, Letras, Ciência Política, Educação, Bioética, Economia, Ciências Humanas, Psicologia e Sociologia (UFRGS), Educação, Letras, História, Antropologia e Geociências (UFF), Geografia, Ciências Humanas, Psicologia, Educação, Letras, Psicologia, Educação, História e Geografia (UFRJ), Antropologia (UFBA), Artes e Educação (Unicamp).

       No período, portanto, outras áreas, que não a Comunicação, se dedicaram mais às relações entre religião e mídia do que a disciplina especializada nos mecanismos sociais, simbólicos, linguísticos e tecnológicos da informação: 51 dissertações ou teses contra 36 – o que pode ser explicado, em parte, pela constituição relativamente recente dos programas de pesquisa específicos da Comunicação. Por outro lado, também aponta para o evidente interesse das diversas áreas do conhecimento pelo cruzamento de fenômenos tão abrangantes como a religião e a mídia.

         A produção mais acentuada de áreas não-comunicacionais explica em grande parte a predominância de referências teóricas constituídas fora do campo da Comunicação, mesmo nas pesquisas dos programas específicos. Autores como o sociólogo Pierre Bourdieu, por exemplo, cuja preocupação com a afetação da mídia na construção da identidade religiosa é aspecto tangencial de sua bibliografia, são mais frequentes no embasamento teórico das pesquisas do que pensadores que se dedicam (ou já se dedicaram) especialmente ao assunto, como Robert White, Pedro Gilberto Gomes, Antônio Fausto Neto, etc.



[1] Sejam Comunicação, Comunicação Social, Comunicação e Semiótica, Comunicação e Informação, Comunicação e Cultura, Comunicação e Práticas de Consumo, Comunicação e Sociedade, Comunicação e Cultura Contemporânea, Jornalismo, Multimeios, Imagem e Som, Meios e Processos Individuais ou Comunicação, Cultura e Amazônia.

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