quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O erro é fundamental na Ciência

Na Folha de São Paulo de hoje:


Nova revista vai publicar pesquisas que falharam

Periódico batizado de "Revista de Errologia" vai ser editado por brasileiro

Objetivo é evitar que erros cometidos por um cientista sejam repetidos por outros e discutir seus motivos

SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO


Hipóteses perdidas, experimentos que falharam e resultados que não foram encontrados em pesquisas científicas agora terão um lugar ao sol. Ou pelo menos um lugar para serem publicados.

Um novo periódico científico, batizado de "Journal of Errorology" ("Revista de Errologia"), surgiu para contar a história de trabalhos que não seguiram o rumo esperado.

O objetivo da publicação, de acordo com o editor, o biólogo brasileiro Eduardo Fox, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é discutir os furos de paradigma.

"Conhecer um experimento que falhou ou teve um resultado inesperado pode ser muito interessante para os cientistas", explicou Fox.

"É importante ter acesso às experiências que não funcionaram. Isso evita que outros cientistas cometam o mesmo erro", analisa o cienciometrista Rogério Meneghini. Ele é coordenador do Scielo, base que reúne 911 revistas científicas da América Latina.

SÓ SE ESTIVER CERTO
Hoje, a maioria dos periódicos científicos não publica informações de pesquisas que "falharam". O foco dos trabalhos são os resultados positivos. Esse padrão dos artigos científicos é, inclusive, ensinado em cursos de técnica de escrita feitos por editoras de periódicos e empresas especializadas na área.

Algumas revistas até publicam resultados inesperados -mas desde que já tenham uma explicação lógica.
"Estamos interessados em publicar situações em que os pesquisadores chegaram e que ainda não têm explicação científica", afirma Fox.

A ideia é promover a discussão dos cientistas-leitores na própria revista.

"Essa situação inesperada aconteceu comigo. Tinha hipótese de que, ao silenciar um determinado gene [suprimir sua função], uma abelha operária pudesse se desenvolver numa abelha rainha", conta o biólogo da USP de Ribeirão Preto, Francis Nunes.

"Mas meus dados mostraram que não houve tal modificação. Em termos científicos, tais episódios não são considerados erros. São uma rejeição de uma hipótese."

O "Journal of Errorology" está aberto para receber trabalhos de cientistas de todo o mundo pelo sitebioflukes.com/Allbioflukes.

Mas, de acordo com o editor, o grupo responsável pela publicação -uma sociedade científica internacional chamada Souls (Society Of United Life Sciences)- estuda alternativas para selecionar os textos recebidos.

Hoje, os periódicos científicos têm um comitê que analisa os trabalhos por meio de pares (conhecida como "peer-review"): são dois cientistas para cada artigo recebido.

"Sabemos que esse sistema é falho e que muitos cientistas só aprovam o que lhes interessa", diz Fox.
A ideia é que os cientistas que interagirem nas discussões on-line sobre os artigos atuem como uma espécie de "peer-review" externo.

Outra novidade do "Journal of Errorology" é que ele será totalmente eletrônico.

"As publicações eletrônicas concentram os cientistas mais jovens. Mas é um caminho sem volta para as revistas científicas", conclui Fox.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

30 motivos pelos quais a tv em inglês foi melhor que o cinema

Comecei a escrever pensando em dez.
Aí chegou a uns 20 e tantos e resolvi, arbitrariamente (como em todas as listas), a 30.
Trinta motivos pelos quais eu acho que a tv norte-americana/inglesa foi melhor que o cinema deles nos últimos dez anos.
Ou, para ser menos dramático: 32 momentos muito legais da TV falada em inglês. Sem ordem de importância.


  • ·      O personagem Gregory House, possível na sua complexidade por causa da criação e interpretação de Hugh Laurie. A série se esgotou em quatro ou cinco temporadas, pois se baseia exclusivamente em um mesmíssimo modelo de roteiro, portanto altamente previsível. Mas o personagem House é tão bom, melhor mesmo que Sherlock Holmes, que não conseguimos abandonar o espetáculo. Passa ano, passa temporada e basta pegar uma cena com o House e nos despencamos a assistir, não importa quão ruim esteja.
  • ·      O primeiro episódio “Paintball”, de Community. Uma aula de roteiro de referências em 20 minutos, com citação que fazem o enredo andar e, ao mesmo tempo, uma ironia superior sobre os clichês dos filmes de ação.
  • ·      O episódio “My dinner with Andre”, de Community. Colocou a metalinguagem televisiva num outro nível.
  • ·      Quando descobrimos que a trama de Battlestar Galaktica é no profundo passado e não no futuro, desmontando uma quase-norma de sci-fi.
  • ·      Os robôs são monoteístas e os humanos, politeístas, em Battlestar.
  • ·      A trama “Hamersterdam”, na terceira temporada de The Wire.
  • ·      A morte de Stringer Bell, o personagem de Idris Elba em The Wire.
  • ·      Mais importante: as mortes frias, sem glamour, de personagens-protagonistas em The Wire. Como o de "Bodie", por quem nos afeiçoamos apesar da bandidagem.
  •       Omar Little.
  • ·      A dança da galinha em Arrested Development.
  • ·      O papel auto-depreciativo de Jason Alexander, o George Constanza de Seinfield, em Curb Your Entusiasm.
  • ·      O piloto de A Sete Palmos, especialmente a sequência de morte do patriarca.
  • ·      A primeira temporada de Lost. Depois é um lixo de referências sem motivo, ganchos vazios, buracos na trama. No início, tem aquela selva luxuriante e o apelo Twilight Zone que todos amamos.
  • ·      Walton Goggis em Justified, impressivamente na sua “conversão”.
  • ·      O relógio de contagem regressiva para o próximo show, na sala do personagem de Matthew Perry. Trata-se da perfeita sensação de melhor emprego do mundo, inclusive-porque-é-estressante-e-toma-todo-o-nosso-tempo-arruinando-nossos-relacionamentos, na única e esplêndida temporada de Studio 60 on the Sunset Strip.
  • ·      Os solilóquios da terceira temporada de Deadwood.
  • ·      Tony Soprano leva seu capanga mais próximo para dormir com os peixes.
  •      A sequência de abertura na segunda temporada de Sopranos, com Sinatra e "It was a good year". 
  • ·      Os números musicais em Family Guy.
  • ·      Os roteiros de reviravolta em Futurama.
  • ·      O Papai Noel com critérios rigorosos demais, em Futurama.
  • ·      As cenas longas e “vazias” em Treme, especialmente no Carnaval.
  • ·      Way Down in the hole, nas aberturas de The Wire.
  • ·      As tiradas de Bunk Moreland em The Wire. Por exemplo: “Eu não passo de um filho de uma puta com um pau enorme”.
  • ·      Idris Elba tentando se matar em Luther.
  • ·      Os indícios de que Bob Esponja é gay – e as sacadas visuais da série, especialmente quando emergimos e os personagens viram bonecos simplórios.
  • ·      As hipnóticas coreografias dos Backyardigans.
  • ·      O brilhante episódio de Monk em que um advogado forja a própria morte – e a linda música de abertura (Randy Newman – It’s a jungle out there) sob um céu de brigadeiro em São Francisco.
  • ·      A sequência “Save the Orphans”, em Two and a Half Men, em que o genial Jon Lovitz incorpora a afetação politicamente correta das premiações.
  • ·      Justin Timberlake em Saturday Night Live.
  • ·      Os travellings que marcam passagem de trama em Downton Abbey.
  • ·      Al Swearengen (Ian McShane na sua melhor interpretação, criando outro personagem símbolo) constrói a civilização numa prova de que nem sempre as boas intenções são essenciais para o progresso. Deadwood.

domingo, 27 de novembro de 2011

Primeira pessoa!

Hoje, na Ilustríssima da Folha.


"La garantía soy yo!"
A febre da primeira pessoa nos ensaios americanosPAULO ROBERTO PIRES
RESUMO
Excluído da não ficção e pária no jornalismo, o "eu" faz uma volta triunfal e impositiva na escrita ensaística americana, como se pode verificar na edição deste ano de "The Best American Essays". Se o resultado é discutível, o princípio é razoável: por que banir a subjetividade da escrita, já que a pretensão à neutralidade da terceira pessoa não é garantia de absolutamente nada?
São 24 os melhores ensaios publicados em 2011 nos Estados Unidos. A lista, sujeita a contestação como todas as listas, é da série "The Best American Essays" [Mariner Books, 320 págs.,
R$ 38,60], que chega ao seu 26o ano com a seleção entregue a Edwidge Danticat, autora de origem haitiana que em 2008 venceu o Book Critics Circle Award com "Brother, I'm Dying" e desde então é figurinha fácil nas páginas de revistas como a "New Yorker".Todos os textos selecionados têm, como era de se esperar, indiscutível qualidade e acabamento formal. Tratam, de forma igualmente previsível, de um amplo espectro que vai do câncer ao Facebook. E, em sua esmagadora maioria, trazem em seus primeiros parágrafos uma portentosa primeira pessoa.
Este texto poderia ter começado assim. Mas talvez estivesse mais em sintonia com um certo espírito do tempo desta outra forma:
"Quando folheava a edição de 2011 do 'The Best American Essays', hábito que cultivo em busca de textos para publicar na revista que edito, comecei a perceber o quanto os autores selecionados são pessoais em seus textos. Talvez por influência da organizadora do volume, Edwidge Danticat, haitiana notabilizada com uma autobiografia, 'Brother, I'm Dying', que publiquei no Brasil com o título 'Adeus, Haiti'. Talvez, ainda, porque o engajamento de quem escreve torne seus textos mais contundentes para quem lê. É desconcertante como Christopher Hitchens ironiza sua condição de paciente de câncer e curioso que Zadie Smith tenha testemunhado, quando estudante de Harvard, o nascimento do Facebook."
Tradicional excluído dos meios da não ficção, pária no mundo do jornalismo, o "eu" faz hoje uma volta triunfal e impositiva. Nessa antologia, a primeira pessoa é o eixo de 21 dos 24 ensaios selecionados, seja a experiência do narrador a matéria-prima do texto, o que se explica -ou apenas um pretenso certificado de autenticidade do que ali se conta. É como se o escritor, transformado num Walter Mercado das letras, procurasse tranquilizar a clientela com um velho slogan: "La garantía soy yo!".
É claro que o fato de o romancista Mischa Berlinski estar no Haiti traz substância indiscutível para "Port-au-Prince: The Moment" (Porto Príncipe: o momento), um relato do terremoto que devastou o país ano passado. A meditação de Pico Iyer sobre a recorrência e a importância em sua vida de refúgios dedicados à prece e à contemplação também é a medula do belo "Chapels" (capelas).
PRAGA ENSAÍSTICA
Fica a dúvida se realmente temos que saber detalhes da vida sexual de Bridget Potter e de seus infortúnios com uma (ineficiente) espuma rosa anticoncepcional para entender melhor o mundo do aborto ilegal nos EUA desde a década de 1960. Ou se a morte dos pais de Katy Buttler, com todo respeito, fazem de "What Broke My Father's Heart" (o que partiu o coração de meu pai) uma reflexão mais acurada sobre as decantadas perversidades do sistema de saúde dos EUA. Ou ainda que a descrição de um périplo de Susan Straight com seus filhos e o pai deles, "Travels with My Ex" (viagens com meu ex), lance uma luz realmente nova sobre o renitente preconceito racial em seu país.
Ser "pessoal" virou, sem dúvida, uma moda e uma praga na escrita ensaística americana. Se o resultado é discutível, o princípio é mais do que razoável. Não há mesmo por que banir a subjetividade da escrita, já que a terceira pessoa e sua pretensão à neutralidade e à acuidade não são, em si, garantia de absolutamente nada.
ENSAIO PESSOAL
Não custa lembrar que, na tradição anglo-saxã, ensaio não é sinal exterior de distinção intelectual ou pedregoso exercício acadêmico -estes os sinônimos desgraçadamente mais frequentes em nossos dicionários. Naquela acepção, são igualmente "ensaios" uma composição escolar ou uma reflexão de Lionel Trilling.
O que define esse gênero de fronteiras tênues é, antes de qualquer coisa, o desenvolvimento de um raciocínio que, sem se pretender conclusivo, sugira interpretações criativas de um tema ou fato com total liberdade de referências e forma. Nessa lógica, nada mais natural do que o surgimento de um subgênero batizado "ensaio pessoal" -e que tem em um autor da qualidade de Phillip Lopate um expoente e, também, um teórico. "The Art of the Personal Essay" (a arte do ensaio pessoal), antologia que organizou em 1997, tornou-se uma referência ao demonstrar como, desde Sêneca ou do incontornável Montaigne, a primeira pessoa pode fazer uma diferença sensível na escrita de não ficção.
Há, no entanto, uma fronteira tênue entre a marca pessoal forte e a pura "egotrip", viagem à roda de si mesmo em tudo favorecida quando, nas redes sociais ou nos programas de TV, intelectuais e iletrados unem-se no mal disfarçado prazer em expor suas intimidades. Oferecendo à humanidade mais informação do que lhes foi requisitado, das fotografias do que comeram numa caríssima degustação gastronômica ao relato expiatório de abusos sexuais, estes exibicionistas, amadores ou profissionais, tornam obsoletas ideias como privacidade ou intimidade -ambas razoáveis, convenhamos, para um convívio urbano.
Neste "The Best American Essays", versão 2011, os princípios do ensaio pessoal se repetem como farsa do mundo superexposto. "Nós estamos narrando, afinal, (assim como meu pai), vislumbres de momentos, fragmentos de vidas, declarando nosso amor e ódio, preocupações e ambivalência, expondo nossos 'eus' ocultos, na expectativa de que o que dissermos fará sentido para os outros", escreve Edwidge Danticat. Mas poderia ter dito o mesmo a Oprah Winfrey.
GRANDE ESCRITOR
A própria organizadora tem, é claro, seus bons momentos. E com uma escolha particularmente feliz demonstra a fragilidade da grande maioria das outros. De Christy Vannoy sabe-se que trabalha em um primeiro romance e é colaboradora da "McSweeney's". Foi lá, na revista modernosa editada por Dave Eggers, que publicou "A Personal Essay by a Personal Essay".
A ideia lembra o nonsense das melhores crônicas de Woody Allen: trata-se de um ensaio pessoal escrito por um Ensaio Pessoal, criatura do sexo feminino que sofreu abusos da mãe, foi engravidada por um primo, teve um filho com problemas mentais e, depois de uma menopausa precoce, teve que retirar seu útero.
Ensaio Pessoal fêmea relata -em primeira pessoa, é claro- sua experiência numa oficina promovida por uma revista feminina. Dentre seus colegas estão o Ensaio sem Braços, o Ensaio Homossexual, o Ensaio do Divórcio, o Ensaio Refugiado. Logo surge no grupo um patinho feio, o Ensaio sobre a Terça-Feira. A rejeição tem lá seus motivos, já que o texto não era "sobre a terça-feira de uma amputação, apenas sobre uma velha e comum terça-feira. Ele insistia em começar frases sem o pronome pessoal 'eu' e em comparar uma coisa com outra em vez de simplesmente disparar falando o que aconteceu".
Pois não é qualquer vida que tem estado no centro dos ensaios pessoais. Trata-se, em geral, de uma vida que poderia ser boa, mas não o é por culpa de outrem, seja um ditador ou uma doença fatal. Por isso é, de fato, antológico, o "Tópico de Câncer" que Christopher Hitchens publicou na "Vanity Fair" pouco depois de seu diagnóstico. Com a dureza de sempre, Hitchens narra sua vida como cidadão de Tumorville, uma terra democrática e sem racismo, mas onde não se fala em sexo e a comida é sempre ruim.
No país da doença, lembra ele, o dominante é um imenso clichê, o da vitória e superação -muito frequente, aliás, dentre os melhores ensaios de 2011. "As pessoas não têm câncer: elas sempre estão lutando contra o câncer. Nenhum voto de melhoras omite a imagem combativa: Você pode derrotar isso", escreve ele. "Mesmo os obituários falam dos que perderam para o câncer, como se fosse razoável dizer que alguém tenha morrido depois de uma longa e corajosa luta contra a mortalidade."
E. B. White, um dos bambas do gênero, dizia que o ensaísta jamais deve se pretender um grande escritor. Ao contrário, lembrava ele, "deve estar feliz com o papel autoimposto de cidadão de segunda classe". Mas o mal do tempo parece ter mudado de escala, pois o ensaísta nem mais aspira ao status de criador: ele se basta como criatura, princípio e fim de meditações sobre umbigos que, convenhamos, nem sempre estão cercados por interesse ou inteligência.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Da Ilustríssima de ontem: sobre escrever complicado!

ENSAIO

Complicar é uma ciência
A obscuridade e as antenas da semiótica

STEVEN JOHNSON


RESUMO Aluno de semiótica nos anos 80, Steven Johnson, autor de "De Onde Vêm as Boas Ideias", enxergava na obscuridade da prosa uma virtude. O tempo lhe ensinou a refinar o estilo e a aproveitar o que é de fato importante na disciplina: usar as "antenas conceituais" para buscar significados no que parece ordinário.
tradução CLARA ALLAIN

Ficar horrorizado com o estilo de prosa que praticou na juventude é um dos riscos ocupacionais da atividade de escritor. Em geral, as falhas refletem entusiasmo descontrolado, clichês literários remanescentes ou incapacidade para assumir uma voz bem definida. Mas, quando leio meus escritos juvenis dos tempos da faculdade, tenho uma estranha e quase total sensação de desconexão. O seguinte trecho é de um trabalho que escrevi aos 19 anos:
"O dilema de qualquer análise tropológica da narrativa sempre reside em seu próprio recurso, apagado e tortuoso, a um modo metafórico de apreender seu objeto; a rigidez e a insistência de suas taxonomias e a facilidade com que relega cada enunciado errante a um regime rígido de formações enunciativas possíveis é testemunho de uma confiança constitutiva em que sua própria metalinguagem interpretativa vai se aproximar da forma linguística que examina ou obedecê-la."
Eu estava no segundo ano na faculdade, e a minha voz, na página, soava como a de um professor de 60 anos da Sorbonne mal traduzido do francês.
Mas escrever essas frases -e ainda há milhares delas lançando seus enunciados errantes em meu disco rígido- se mostrou uma parte crucial de minha educação. Isso porque fui estudante de semiótica na Universidade Brown num período notável dos anos 1980; segundo diziam, na área de humanidades daquela universidade, a semiótica seria o terceiro curso mais popular, apesar de ser um campo (e uma palavra) que só atraía olhares de incompreensão em festas familiares e entrevistas para empregos. "Ah, a semiótica", me disse certa vez um parente distante durante as férias de inverno. "O estudo de como as plantas crescem na luz. Um campo muito importante."
A grande atração estava justamente, em parte, na obscuridade desse campo. No novo romance de Jeffrey Eugenides, "The Marriage Plot" [Farrar, Straus & Giroux; 496 págs.; R$ 68,40], cuja história é ambientada na Universidade Brown no início dos anos 1980, a heroína topa com o programa de semiótica pela primeira vez quando uma amiga volta para casa com um exemplar de "Gramatologia", do filósofo francês Jacques Derrida (1930-2004).
"Quando Madeleine perguntou sobre o que era o livro, Whitney deu a entender que a ideia de um livro ser 'sobre' alguma coisa era exatamente o que aquele livro era contra, e que se fosse 'sobre' alguma coisa seria sobre a necessidade de parar de pensar nos livros como sendo sobre coisas."
A semiótica ("ciência dos signos", em grego), como campo de estudos, data de filósofos e linguistas do final do século 19 como Charles Sanders Peirce (1839-1914) e Ferdinand de Saussure (1857-1913); atualmente é mais comumente associada a Umberto Eco.
NIKE E REAGAN A essência geral da semiótica pura é uma espécie de teoria social baseada na linguística; se a linguagem molda nosso pensamento, e nosso pensamento molda nossa cultura, então, se estivermos procurando uma chave mestra para encontrar o sentido da cultura, faz sentido começar pelas estruturas fundamentais da própria linguagem: signos, símbolos, metáforas, artifícios narrativos, figuras de linguagem. Com essas ferramentas, seria tão fácil interpretar um discurso de Ronald Reagan quanto um anúncio da Nike.
Quando cheguei à Universidade Brown, no entanto, em meados dos anos 1980, havia dezenas de subgrupos reunidos sob a bandeira da semiótica: a desconstrução de Derrida, a psicanálise pós-freudiana, o pós-feminismo, o pós-estruturalismo, os estudos culturais. (Parece que éramos pós-muitas coisas naquela época.) Na realidade, as pessoas bem informadas raramente falavam em "semiótica". O termo abrangente era apenas "Teoria", com a letra tê em maiúsculo.
Teóricos como Derrida e Michel Foucault eram heróis em muitos campi universitários daquela época, mas, de algum modo, ter uma disciplina principal que anunciava sua filiação -em vez de esconder-se atrás de um diploma mais tradicional, de filosofia ou inglês- tornava mais pronunciada a afinidade.
É claro que parte disso era apenas pose. "Estudar na universidade nos anos 80, uma década em que muita gente fez muito dinheiro, demandava certo radicalismo", escreve Jeffrey Eugenides. "A semiótica foi a primeira coisa a ter cheiro de revolução. Ela traçava uma linha divisória; criava um eleito; era sofisticada e europeia; tratava de temas provocantes, de tortura, sadismo, hermafroditismo, sexo e poder."
Abraçar a semiótica acarretava custos. No meu caso, passei a maior parte dos meados de meus 20 anos desemaranhando meu estilo de prosa (que foi ficando mais jovem à medida que eu envelhecia). Hoje, passo mais tempo aprendendo com os "insights" da ciência do que desconstruindo suas reivindicações da verdade. Fui pouco a pouco sufocando o desejo de impressionar com obscuridade proposital.
VISITA SURPRESA Durante a minha pós-graduação, participei de um seminário sobre Jacques Derrida ao qual o próprio Derrida fez uma visita surpresa, respondendo modestamente a nossas perguntas sem nada do drama que eu imaginara ao ler suas palavras escritas na página.
Espantosamente, ele parecia estar dizendo alguma coisa, em vez de apenas dizer alguma coisa sobre a impossibilidade de dizer qualquer coisa. Em um momento constrangedor, um colega meu fez uma pergunta confusa e autorreferencial, que começou por colocar "sob correção" a própria natureza de uma resposta. Lembro-me de ter dado um largo sorriso quando, após uma longa pausa, Derrida respondeu: "Sinto muito, mas não entendi a sua questão". Parecia o fim de uma era: o próprio Derrida estava pedindo mais clareza.
Mas a semiótica, naqueles anos, não era apenas o mais novo modismo vindo da França. Como observou certa vez um grande amigo, ela deixava em muitos de nós a sensação inebriante de que o mundo do dia a dia -especialmente o mundo da mídia- tinha uma camada secreta de sentido que poderia ser decifrada, desde que dispuséssemos da chave certa (um pouco dessa sedução foi habilmente embalada na disciplina da "simbologia" dos romances "O Código Da Vinci").
À medida que fomos ficando mais velhos, muitos de nós começamos a empregar ferramentas conceituais diferentes, mas foi aquele entusiasmo inicial dos nossos anos de estudo da semiótica que nos fez deslanchar: a sensação instigante de ter 20 anos e ter acesso a um mundo de conhecimentos ocultos. Quando comecei a escrever livros sobre tecnologia e mídia, no final dos meus 20 anos, as frases eram mais curtas e os argumentos tinham menos chance de serem postos sob correção, mas o que animava o meu trabalho era a impressão de que interfaces de computador ou videogames possuíam um significado social sutil, que nem sempre era evidente à primeira vista. Essa perspectiva foi também o legado de meus anos de estudos de semiótica e acabou revelando ser bem mais durável que o estilo de prosa.
GENTE INFLUENTE Sei de pouquíssimos amigos que continuam a praticar a Teoria tal como ela nos foi ensinada então. Mas um número notável de estudantes de semiótica acabou tendo carreiras influentes na mídia e nas artes. (Talvez antevendo esse fenômeno, durante minha fase na Brown o curso foi rebatizado de Cultura e Mídia Modernas.)
Ira Glass, da National Public Radio, o romancista Rick Moody, o cineasta Todd Haynes, o próprio Eugenides -todos passaram seus anos de formação no programa de semiótica. O anti-herói do hilário romance "The Ask" [St. Matin's Press; 304 págs.; R$ 36,70], de Sam Lipsyte, publicado em 2010, faz aulas de teoria numa faculdade que é claramente inspirada na Universidade Brown. (Sam Lipsyte foi, na verdade, meu colega de quarto durante boa parte dos meus anos de faculdade; gosto de pensar que as paródias sarcásticas do jargão semiótico que ele faz no livro foram inspiradas em outros amigos dele.)
Uma extensa lista de candidatos a especialistas em semiótica exerceu papéis importantes nos primórdios da mídia digital. Olhando para trás, desconfio de que a visão de mundo semiótica -com sua ênfase constante sobre o "jogo textual"- nos muniu de antenas conceituais que nos ajudaram a sintonizar o caos hipertextual da web quando ela surgiu. A despeito de todas as complicações desnecessárias, a semiótica nos ensinou a procurar novas possibilidades no que é ordinário, convertendo signos em novas maravilhas. Apesar de todo o nosso discurso sobre sermos pós-tudo, o mais interessante em nós acabou revelando ser aquilo em que fomos pré.

Este texto foi originalmente publicado no jornal "The New York Times", em 14/10

sábado, 29 de outubro de 2011

Escola sem computador no Vale do Silício


Hoje, na Folha de S. Paulo

No Vale do Silício, uma escola sem tecnologia, com agulha de tricô

MATT RICHTEL
DO "NEW YORK TIMES",
EM LOS ALTOS, CALIFÓRNIA


O vice-presidente de tecnologia do eBay matriculou seus filhos em uma pequena escola de Los Altos. O mesmo fizeram funcionários de gigantes do Vale do Silício como Google, Apple, Yahoo! e Hewlett-Packard.
Mas as principais ferramentas de ensino da escola nada têm de tecnológico: caneta e papel, agulhas de tricô e, ocasionalmente, argila. Nenhum computador à vista. Nenhuma tela.
Nos EUA, as escolas correm para equipar suas salas de aula com computadores, e muitas autoridades da educação consideram insensato fazer o contrário. Mas há um ponto de vista oposto no epicentro da economia tecnológica, onde alguns pais e educadores difundem a mensagem de que computadores e ensino não são boa mistura.
Falo da Waldorf School of the Peninsula, uma das 160 da rede que opera nos EUA sob uma filosofia de ensino centrada na atividade física e aprendizado por meio de tarefas práticas e criativas.
Os defensores dessa abordagem dizem que os computadores inibem o pensamento criativo, a interação humana e a concentração.
O método Waldorf tem quase um século, mas a posição que estabeleceu aqui no quartel-general da economia digital coloca em destaque um debate cada vez mais intenso sobre o papel dos computadores na educação.
"Rejeito frontalmente o conceito de que é preciso assistência tecnológica para ensinar no primeiro grau", disse Alan Eagle, 50, cujos filhos estudam no primeiro grau Waldorf. "A ideia de que um aplicativo no iPad seja capaz de ensinar meus filhos a ler ou fazer contas é ridícula."
Eagle formou-se em ciência da computação pelo Dartmouth College e trabalha no departamento de comunicação executiva do Google, onde escreveu palestras para o presidente do conselho do grupo, Eric Schmidt. Ele usa um celular inteligente e um iPad. Mas sua filha, que começa a quinta série, "não sabe como usar o Google", e seu filho começa a aprender. (A escola permite os aparelhos a partir da oitava série.)
Três quartos dos alunos da escola têm pais conectados ao setor de tecnologia. Eagle, como os demais pais, não vê contradição nisso. A tecnologia tem hora e lugar, diz.
"Se fosse da Miramax e produzisse bons filmes, mas só para maiores, não quereria que meus filhos os vissem ainda na adolescência."
Em uma terça-feira recente, Andie Eagle e seus colegas de quinta série estavam relembrando algumas técnicas de tricô; as agulhas de madeira se cruzavam por sobre os novelos. A escola afirma que a atividade ajuda a desenvolver capacidade de solução de problemas, reconhecimento de padrões, conhecimentos matemáticos e coordenação motora. O objetivo neste período é fazer meias.
Adiante, uma professora ensinava multiplicação à terceira série e pediu que imaginassem que seus corpos se transformaram em relâmpagos. Ela perguntou quanto é cinco vezes quatro e as crianças responderam "20", estalando os dedos na direção da resposta na lousa. Uma sala repleta de calculadoras em forma humana.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Bolsas de iniciação científica.

Aqui está o edital para quem quer se candidatar à bolsa do projeto de iniciação científica que coordeno na UniBrasil.

                                                                        

                                                    EDITAL /2012


      PROCESSO SELETIVO PARA BOLSISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA   

      A Coordenação do Curso de Jornalismo  torna público à comunidade acadêmica o presente Edital, que fixa as normas referentes ao Processo Seletivo para escolha de 03 (três)  estudantes bolsistas de iniciação científica para o curso de graduação em Jornalismo, bem como estabelece o intervalo de 14 de outubro a 21 de outubro do corrente ano como período de seleção.

1  Da iniciação científica:
1.1. Iniciação à atividade de pesquisa que visa contribuir para a elevação da qualidade da formação acadêmica dos alunos de graduação, bem como, estimular a formação de profissionais de elevada qualificação técnica, científica, tecnológica e acadêmica, além de colaborar para a integração dos corpos discente e docente, concretizando os objetivos educacionais estabelecidos pelo Regimento das Faculdades Integradas do Brasil;
1.2. É compromisso do bolsista de iniciação científica, a partir do mês de abril de 2010, integrar-se às atividades de pesquisa desenvolvidas por docentes das Faculdades Integradas do Brasil, nas áreas para as quais foram escolhidos;
1.3. Ao estudante selecionado de acordo com o atendimento dos critérios descritos no artigo 2.1 deste Edital, será repassado, a título de bolsa de iniciação científica, R$ 100,00 (cem reais), durante o período de abril de 2012 dezembro de 2012. Assim, a bolsa de iniciação científica terá duração de 8 (oito) meses, podendo ser renovada, salvo a hipótese de exclusão do monitor em razão do não cumprimento de suas obrigações.
1.6. A bolsa será concedida na forma de descontos na mensalidade.
1.7 A atividade de iniciação científica  não implica vínculo empregatício e suas atividades são regidas em contrato específico.

2    Dos critérios de seleção
2.1 Poderá se inscrever no processo seletivo para o Programa Institucional de Iniciação Científica o aluno regularmente matriculado no curso de graduação em Jornalismo e que atenda aos seguintes critérios:
I) Que apresente uma carta de intenção (1  a 2 laudas) na qual justifique seu interesse pelo desenvolvimento de pesquisa dentro da temática “Metodologias que priorizam o ator individual como agente da ação social”.
II)  Que apresente declaração – datada e assinada - de que disponibilizará de 15 horas semanais para as atividades de Iniciação Científica.
III) Ter frequência de mais de 75 % nas disciplinas já realizadas e nas disciplinas em curso;
IV)  Ter  sido aprovado integralmente em todas as disciplinas do 1º período do Curso de Jornalismo da UniBrasil (em casos de alunos que já concluíram o primeiro período);
V)  Não estar  matriculado no último período do curso;
VI) Apresentar bom desempenho acadêmico (não tendo sido reprovado – por frequência ou nota -  em nenhuma disciplina cursada).

§ Único: em caso de empate em todos os critérios discriminados no artigo 2.1 deste Edital, para o desempate será utilizado nesta ordem: i) o maior IRA (Índice de Rendimento Acadêmico); ii) estar cursando no 1º semestre de 2010 período mais avançado.
2.2 A Comissão de Seleção será formada pela Coordenadora do Curso de Jornalismo da UniBrasil,  professora Maura Oliveira Martins  (presidente)  e pelos professores Victor Emanoel Folquening (coordenador), e Elaine Javorski (membro).

3   Das inscrições
3.1  Os candidatos deverão fazer suas inscrições enviando o texto solicitado por email – mauramartins@gmail.com - no período de 14 de outubro a 21 de outubro de 2011, até às 18h;
.

4. Dos resultados
4.1. A Coordenação do Curso de  Jornalismo divulgará no dia 27/10/2011,  em edital  o resultado do processo seletivo.

5  Das disposições gerais
5.1 Tanto os bolsistas de Iniciação Científica quanto os professores orientadores estarão obrigados a atenderem as solicitações da Coordenação de Publicações, Pesquisa e Extensão, bem como, ao cumprimento do calendário de atividades por ela estabelecido.
5.2 Os casos omissos neste edital serão analisados pela Comissão de Seleção do processo seletivo para alunos bolsistas de Iniciação Científica  do curso de Jornalismo  da UniBrasil.

                       Curitiba, 12 de outubro de 2011           
               
                                                               Profª Maura Martins  
                                                   Coordenadora do Curso de Jornalismo
                                                     Presidente da Comissão de Seleção
                                                             Prof Victor Emanoel Folquening
                                                            Coordenador e Orientador do Projeto
                                                                Profª Elaine Javorski  
                                                                         Membro