terça-feira, 7 de junho de 2011

Redes sociais não inventaram o indivíduo


Esse é o resumo do artigo aceito no Congresso Mundial de Comunicação Iberoamericana, que será realizado em agosto na capital paulista. Lançado como LP em 1964, o disco de Coltrane é um impressionante indício de que a ação individual na circulação de mensagens já existia francamente no auge da mídia de massa. Ou seja, não foram as redes sociais que inventaram o indivíduo.


Contrabandos: ação dos atores individuais para a circulação

O artigo resulta do esforço de identificar estratégias discursivas específicas de religiosos em ambientes “inóspitos” proporcionados pela midiatização. Por “inóspito” leia-se “deslocamento”: locais da ambiência que não são programados ou convidativos para manifestações da religião.
A religião é particularmente sugestiva, nesse contexto, porque a solidez de cada campo e seus interesses conflitantes, representam, em primeiro lugar, resistência a alguns protocolos e ações da midiatização; em segundo lugar, oferecem, eles também, diversos tipos de influência que redesenham as “formas tecnológicas de vidas”.
Estudiosos latinos e norteamericanos, sobretudo, se ocupam de compreender impactos da midiatização na “transformação” das instituições religiosas. Mas a experiência de transmitir mensagens em outros ambientes parece ocorrer preferencialmente na forma de “contrabandos” individuais. Ou seja, não é um sistema que infere suas proposições em outros. Os campos não promovem intercâmbios relevantes porque sistemas não aceitam interferências discursivas radicais sem se transformarem em outra coisa. Trata-se de limite hermenêutico: se um conjunto de idéias “estrangeiro” contamina um sistema, ele só pode sofrer uma transformação de reconhecimento – caso contrário, a interferência foi tão descartável quanto inócua.
O estudo de caso apresentado envolve um disco de jazz, A Love Supreme, lançado em 1964, que conquistou espaço como objeto devocional – ou pró-devocional. John Coltrane, o músico responsável, gozava de posição privilegiada no restrito mercado do jazz nos anos 60 e era visto, graças à própria imprensa, como um indivíduo muito seriamente ligado a “questões espirituais”.
É objeto em movimento, pois constrói significados à medida que é usado ou interpretado ou rearranjado pelos indivíduos que se deparam com ele, escolhem, o consomem. No entanto, o que sugere ser realmente peculiar é o reconhecimento que, nesse e em outros casos, o papel do indivíduo supera qualquer generalização. Na verdade, o fato de focar nas estratégias do “usuário” (não autor ou consumidor) é mais uma questão de operação metodológica do que escuta das significações emergidas. A ideia é “rastrear” o movimento a partir das pistas que o usuário deixa nas suas estratégias de circulação.

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