segunda-feira, 28 de março de 2011

Se eu fosse cineasta e se fosse o máximo, queria ser dono desses aqui - parte 1


Os filmes que você queria ter dirigido não interessam a ninguém, a não ser ao seu psiquiatra ou par romântico. Uma lista de filmes diz o quanto você é esperto, cult ou abobado ou diz que tipo de problema resolve com escapismo.
A não ser, num caso altamente improvável e tolo, que você seja um cineasta consagrado e está tentando convencer um produtor a fazer uma refilmagem (se este for o seu caso e se quiser um conselho, não faça! Não mexa nisso!).
Mas como vi um filme de Arthur Penn hoje, um western sensacional com o Paul Newmann, fiquei pensando como satisfatório deve ser olhar para um filho seu, um filme, e curtir o que ele se tornou - muitas vezes APESAR de você.

Como "Corpos Celestes", do Fernando Severo, está se saindo bem por aí, todo mundo comentando e sorrindo, confesso que invejo a felicidade que o camarada está sentindo.
Fiz essa lista de uns doze ou treze e digo rapidamente porque o título me envolve tanto e o motivo pelo qual, se um gênio aparecesse e fosse especializado unicamente em cinema (eu não iria gastar um dos 3 quaisquer pedidos com isso, claro, pois um aquecedor a gás digital é prioridade para mim nesse momento), eu escolheria ter realizado aqueles planos, costurado aqueles roteiros, xingado aqueles atores.
Percebi que na lista espontânea que fiz, e que só obedece ao critério de não repetir cineastas (o que tira Os Pássaros como se tirasse meu próprio coração), só tem filme em língua inglesa. Deve ser porque os prefiro, em geral, e seria uma forumssocialisse enfiar um iraniano para parecer cabeça. De qualquer modo, acho que vou lembrar de um "estrangeiro", além do Bergman (que realmente adoro, mas não ando no clima) e oportunamente edito esse post, como bem cabe nesse fim dos tempos para a Palavra Sacramentada de Deus.

Em ordem alfabética, meramente, e daquele jeito ingênuo que conta as vogais.

A noiva de Frankenstein (The bride of Frankenstein. James Whale, 1935)
Acho que vi todos os poucos filmes de James Whale e todos são excelentes. A Noiva de Frankenstein é o contrabando por definição. Parece que é um filme de horror, mas tem raios saindo de toda a parte, inclusive do cabelo daquela que poderíamos chamar de "uns pedaços de mulher!" Há um surrealismo que caberia em Simbad, mas esse pessimismo, essa experiência com a rejeição... se existe o tal de filme de autor, sou bem mais Whale do que todos os franceses da nouvelle vague.


Agora seremos felizes (Meet me in St. Louis. Minelli, 1944).
Como todo musical hollywoodiano, é um filme sobre estar apaixonado. Mas não é bem a paixão de Judy Garland pelo rapaz na porta ao lado que interessa. É a paixão de Minelli, que mesmo sendo gay parece ter derretido seu coração pela genial protagonista. Cada plano é uma moldura, já disse Scorsese, e se tivéssemos tão somente a Trolley Song, já superaria toda a filmografia do Kubrick.


Apertem os cintos, o piloto sumiu (Airplane! Zucker, Abraham & Zucker, 1980)
Eu lembro da primeira vez que vi. Foi num Supercine, no meio dos anos 80, com minha família inteira. Todos riram até chorar. Sabe, de passar mal mesmo. E isso é lindo, porque até hoje fico surpreso com a reação dos meus pais, caretas naquela época com esse tipo de humor. Minha mãe levantou do sofá, com o rosto vermelho, se afogando de rir com a cena em que a mulher do piloto reserva revela que está dormindo com um cavalo. 80% da minha vida quis escrever humor e posso dizer que pouca coisa supera o sublime mau gosto de Airplane! O fato de estar envelhecido o torna mais especial. Talvez eu não ria mais tanto assim das piadas absurdas, mas a fotografia, o figurino, a música... um prazer indiscutível.

Blade runner (Ridley Scott, 1982).

Um amigo meu lá de Ponta Grossa, o Jordão, casou ao som da trilha que Vangelis compôs para Blade Runner. Isso soa meio cafona no momento (cerimônias de casamento e cafonice são praticamente sinônimos, enfim), mas tem algo infinito, misterioso e paralisante naqueles acordes que fazem do trabalho um dos mais perfeitos para cinema. E eu entendo perfeitamente a relação entre um começo desafiador, amoroso, de um casamento, e o futuro chocante... e atraente! As chamas subindo pelos prédios no início, as notas sumindo em bemol, profundo desalento, com o rosto de Harrison Ford ofuscado pelas luzes da metrópole. A fala final de Rutger Hauer, a sexualidade triste de Sean Young, o final mais ambíguo e discutido da cinematografia. Deckard é um replicante? Um bom motivo para manter o interesse na monótona conversa sobre pós-modernidade? Blade Runner.

Cantando na chuva (Singing in the rain. Gene Kelly, Stanley Donen, 1956)

Um clássico sobre felicidade e o antídoto para o tipo de coisa que não consigo gostar: filmes cujo objetivo é provocar suicídio. Esses "cults", adorados pelas pessoas que se sentem críticas quanto à "alienação" dos finais felizes, cheios da pretensão mesquinha de serem portadores da "realidade" dolorosa da vida. Cantando na chuva é puro delírio e fantasia, costurada como acidente, quase sem canções originais, dirigida, na prática, pelo ator. Sem pretensão nenhuma, mas incandescente de talento, esforço e senso prático, é um filme cuja sombra torna ainda mais medíocres esforços como Blue Valentine, Dancing in the dark e os filmes do Todd Solondz.

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