sábado, 29 de outubro de 2011

Escola sem computador no Vale do Silício


Hoje, na Folha de S. Paulo

No Vale do Silício, uma escola sem tecnologia, com agulha de tricô

MATT RICHTEL
DO "NEW YORK TIMES",
EM LOS ALTOS, CALIFÓRNIA


O vice-presidente de tecnologia do eBay matriculou seus filhos em uma pequena escola de Los Altos. O mesmo fizeram funcionários de gigantes do Vale do Silício como Google, Apple, Yahoo! e Hewlett-Packard.
Mas as principais ferramentas de ensino da escola nada têm de tecnológico: caneta e papel, agulhas de tricô e, ocasionalmente, argila. Nenhum computador à vista. Nenhuma tela.
Nos EUA, as escolas correm para equipar suas salas de aula com computadores, e muitas autoridades da educação consideram insensato fazer o contrário. Mas há um ponto de vista oposto no epicentro da economia tecnológica, onde alguns pais e educadores difundem a mensagem de que computadores e ensino não são boa mistura.
Falo da Waldorf School of the Peninsula, uma das 160 da rede que opera nos EUA sob uma filosofia de ensino centrada na atividade física e aprendizado por meio de tarefas práticas e criativas.
Os defensores dessa abordagem dizem que os computadores inibem o pensamento criativo, a interação humana e a concentração.
O método Waldorf tem quase um século, mas a posição que estabeleceu aqui no quartel-general da economia digital coloca em destaque um debate cada vez mais intenso sobre o papel dos computadores na educação.
"Rejeito frontalmente o conceito de que é preciso assistência tecnológica para ensinar no primeiro grau", disse Alan Eagle, 50, cujos filhos estudam no primeiro grau Waldorf. "A ideia de que um aplicativo no iPad seja capaz de ensinar meus filhos a ler ou fazer contas é ridícula."
Eagle formou-se em ciência da computação pelo Dartmouth College e trabalha no departamento de comunicação executiva do Google, onde escreveu palestras para o presidente do conselho do grupo, Eric Schmidt. Ele usa um celular inteligente e um iPad. Mas sua filha, que começa a quinta série, "não sabe como usar o Google", e seu filho começa a aprender. (A escola permite os aparelhos a partir da oitava série.)
Três quartos dos alunos da escola têm pais conectados ao setor de tecnologia. Eagle, como os demais pais, não vê contradição nisso. A tecnologia tem hora e lugar, diz.
"Se fosse da Miramax e produzisse bons filmes, mas só para maiores, não quereria que meus filhos os vissem ainda na adolescência."
Em uma terça-feira recente, Andie Eagle e seus colegas de quinta série estavam relembrando algumas técnicas de tricô; as agulhas de madeira se cruzavam por sobre os novelos. A escola afirma que a atividade ajuda a desenvolver capacidade de solução de problemas, reconhecimento de padrões, conhecimentos matemáticos e coordenação motora. O objetivo neste período é fazer meias.
Adiante, uma professora ensinava multiplicação à terceira série e pediu que imaginassem que seus corpos se transformaram em relâmpagos. Ela perguntou quanto é cinco vezes quatro e as crianças responderam "20", estalando os dedos na direção da resposta na lousa. Uma sala repleta de calculadoras em forma humana.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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