sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Problema dos cristãos aborta debate político

Serra e Dilma têm o mesmo posicionamento sobre o aborto. É provável, inclusive, que José Serra, tendo ocupado a cadeira de Ministro da Saúde, seja ainda mais rigoroso sobre o assunto do que sua companheira/adversária no pleito presidencial. Sabe que é uma questão urgente de saúde pública.

Na verdade, tanto faz o que um e outro pensa, uma vez que a) eles não concorrem a cargos legislativos e o movimento contra a legalização de determinadas situações de aborto já está sob controle de uma bancada evangélica cada vez mais forte, além de sujeita à covardia política e intelectual da maioria dos senadores e deputados, incapaz de enfrentar o que consideram ser "a opinião pública"; b) a única questão em jogo é o uso de seus posições particulares como estratégia de marketing político, o que não se confunde com política, propriamente dita.

O problema é que, mais uma vez, há um empobrecimento da agenda política. Pode até ser que uma questão menor (fundamental, mas paralela) da realidade nacional decida a eleição mais importante do país.
Essa é, pelo menos e desastrosamente, uma oportunidade de verificar in loco a promiscuidade entre religião e estado, atravessando o polianismo de que a simples menção constituinte assegura a laicidade de nossas instituições.

A prova de que isso acontece está na forma como, astutamente, o PSDB promoveu uma cola entre a questão do aborto e a candidata petista, e ao mesmo tempo conseguiu retirar o tema da agenda de seu proponente. Por outro lado, agora Dilma corre atrás dos "valores cristãos" para compensar o prejuízo.

Ou seja, a substância do problema - o Estado deve regulamentar o aborto ou não - nem é importante. Importante é agradar "uma parcela significativa do eleitorado". E essa parte importante está em franca campanha de tomada do Congresso. Acha exagero? Leia "Plano de Deus", de Edir Macedo.

Terminada a eleição, Serra e Dilma continuarão, em conversas "adultas", defendendo o papel do Estado nessa delicada questão de Saúde. Mas nem vão precisar se posicionar publicamente, já que todos sabemos que o assunto vai morrer rapidinho e até políticos que também são pastores ou médicos correrão atrás dos estádios para a Copa do Mundo.

O único aborto que interessa é o das chances do adversário político.

2 comentários:

  1. Victor, o assunto é espinhoso para a política pública e a culpa é - sem dúvida alguma - da religião. É inegável que aborto é uma questão de saúde pública, e uma questão urgente. Há uma boa centena de mulheres (como foi mostrado recentemente em uma reportagme do fantástico) encarando clínicas clandestinas para realizar a ação médica. E isso vai continuar a acontecer porque - independente de terem ou não Deus no coração - o controle de natalidade continua sendo necessário para essas pessoas (cujo motivo para não terem se cuidado antes não merece ser levantado).
    Sei lá, a negligência quanto ao aborto é uma besteira sem tamanho por parte dos dois candidatos a presidência. E isso reafirma o poder desses pastores que saem gritando no youtube (tipo este: http://www.youtube.com/watch?v=NaGBrs7J6O8) para que seus fiéis não votem no PT. Absurdo.

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  2. Ah, gostei muito deste seu terceiro blog.

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